A Ilha
– Susi! Lila! – era a voz de Richard – Corram aqui!
– O que foi? – sai gritando – Qual foi o problema da vez? Uma formiga mordeu seu traseiro. Eu não quero ver essa cena!
– Para de besteira e vem logo! – Richard se aproximava da casa com uma péssima expressão.
Lila e eu corremos para conferir o que de tão urgente havia acontecido. E eu não estava gostando nenhum pouco da expressão do rosto de Richard.
Não nos afastamos muito da casa. Foram poucos metros até Richard parar e ficar olhando para o chão.
– Alguma vez na vida vocês já viram isso por aqui? – Richard se agachou um pouco.
– Não mesmo! – respondi espantada.
– Nunca! – Lila complementou.
Não era apenas uma pegada, era praticamente uma cratera de quase 1 metro de largura. Ao que tudo indicava, era a pegada de um felino. Uma onça talvez.
– Eu não sou especialista em mundo animal, mas acho que um bicho com uma pegada deste tamanho não deve ser pequeno. – Richard se levantou com a mesma expressão de espanto que todos nós estávamos.
– Nós nunca tivemos nenhuma prova concreta que comprovasse que uma onça estivesse rondando a ilha. – falei ainda sob o efeito do susto – É surpreendente.
– É aterrorizante isso sim! – Lila quase embolou as palavras de tão rápido que falou.
– Mas uma onça? – cocei a cabeça – Uma onça não teria uma pata deste tamanho, teria?
– Susi eu quero ir embora daqui! – Lila agarrou em meu braço.
– Calma Lila! – passei a mão em seu cabelo – Seja lá o que for isso, não está por perto. Algo deste tamanho não fica tão bem escondido.
– Você já o viu alguma vez? – Richard estava muito tenso.
– Não, mas...
– Mas nada! – ele me interrompeu – Cada vez acredito mais que algo fora do comum acontece nesta ilha.
– Você diz algo sobrenatural? – Lila apertou ainda mais o meu braço.
– Sem dúvida! – Richard falou quase sussurrando.
– Eu não quero ficar mais aqui! – Lila berrou.
– Pare vocês dois! – berrei mais alto – Não existe nada de sobrenatural por aqui. Deve ser apenas um animal grande.
– Um animal bem grande! – Richard insistia em nos aterrorizar – Seja lá o que for que fez essa pegada, é perigoso e está à solta!
– Rich tem razão! – Lila finalmente soltou meu braço – Precisamos sair daqui!
– E ir para onde? – acabei sendo rude – Vocês já repararam que estamos em uma ilha? Não há para onde ir.
– E vamos ficar a mercê deste bicho? – Richard perguntou.
– Infelizmente não temos muito que fazer. – tentei ser o mais realista possível – A única coisa que nos cabe agora é ficarmos bem atentos a todo lugar. A Lila e eu passamos dois anos aqui e essa coisa sempre esteve por perto. Não estamos as duas muito bem? Então? Talvez estejam fazendo tempestade em copo d’água.
– De qualquer forma é melhor nos cuidarmos! – Richard se afastou devagar da grande pegada.
– Muito bem! – bati as mãos como quem quisesse trazer todos de volta à realidade – Vamos seguir com o que estava planejado?
–E o que estava planejado? – Richard perguntou. Já começava a achar que inteligência não era muito o forte desse garoto.
– A busca nos destroços do avião! – bati na cabeça dele – Você é tapado assim mesmo ou só se faz?
– Com tanta coisa acontecendo e você querendo que eu me lembre de expedição aos destroços do avião? – Richard ficou nervoso – Ah vai tomar no...
– Olha! – tapei a boca dele – E ainda reclama de mim!
– No canto esquerdo do seu olho direito! – Richard se acalmou soltando o ar.
Começamos a subida a montanha. O avião estava bem no alto. A sorte é que a montanha não era tão difícil de subir. Mas parecia que o Richard não estava muito acostumado com esse tipo de exercício físico.
– Então marrento? – provoquei – Já cansou?
– Vai rindo! – ele apoiou as mãos em suas pernas e respirou fundo – Espere até eu me recuperar de todo esse tumulto que minha vida se transformou.
– Vai ficar usando isso como desculpa agora? – continuei provocando.
– Você gosta de me ver nervoso. – ele sorriu.
– Para! – por algum motivo senti meu rosto corar.
– O que foi? – agora ele que me provocava – Acertei em cheio? Não vai me dizer que já está apaixonada. Olha, essa coisa de implicar com quem a gente gosta é muito terceira serie, não acha não?
– Você não acha que é convencido demais para quem acabou de chegar? – fechei a cara.
– Tudo bem, já vi que ultrapassei os limites. – ele levantou as mãos – Mas você não acha que ela gostou pelo menos um pouquinho de mim, Lila?
– Quem sabe. – Lila sorriu meio sem graça. Não estava gostando nenhum pouco disso.
– Você está muito calada. – Richard fez uma boa observação – O que aconteceu?
– Na-nada. – ela gaguejou – Eu... Eu... Eu só estou com um pouco de...
– De medo? – Richard tentou completar a frase.
– Isso! – Lila continuava sorrindo sem jeito – Um pouco de medo daquela pegada.
– Eu também fiquei bem assustado. – Richard passou a mão no ombro de Lila.
– Vem cá – realmente não estava gostando nenhum pouco desse silêncio da Lila – Vamos falar um pouco de você. O que estava fazendo naquele avião? Tinha mais alguém com você?
– Aquele avião na verdade é um jatinho. – ele corrigiu – Por isso, pelo que vi da explosão, não coloco muita fé de que tenha se salvado alguma coisa. E não, eu não estava sozinho.
– Não me diga! – Lila gritou. Estava voltando a ser ela mesma – Não quero mais subir. Não sei se iria conseguir ver um corpo carbonizado!
– Calma! – Richard sorriu – Ele não estava mais no jatinho quando aconteceu a explosão.
– Não me diga! – agora eu que gritei – Existe mais um tarado perdido por essas matas?
– Talvez sim, talvez não. – ele respondeu com desdém.
– E você não está preocupado com seu amigo? – perguntei estranhando a falta de interesse de Richard – Desde que chegou você nem tocou no nome dessa pessoa.
– E que pra mim não faz diferença. – Richard parecia não estar gostando da ideia.
– O que houve? – insisti – Brigou com seu amigo?
– Ela não era minha amiga. – ele arqueou a sobrancelha.
– Então é ela? – estava surpresa.
– Ela? Cof, cof, cof... – Lila começou a ter uma crise de tosse.
– O que foi Lila? – Richard se aproximou de Lila.
– Nada. Acho que engoli um mosquito. – ela estava mentindo. Podia ver em seus olhos. E não estava gostando nenhum pouco mesmo disso.
– Voltando ao que estávamos conversando – puxei a atenção de volta para Richard – você não está nenhum pouco preocupado com essa sua amiga.
– Já disse que ela não era minha amiga! – desta vez Richard ficou bravo – E vamos parar por aqui. Eu não quero falar neste assunto.
– Mas se você vai conviver conosco terá que falar! – entrei na frente dele – Não queremos viver com um completo estranho.
– Mas não foi você mesma que fez questão de dizer que não me quer por perto? – ele bufou – Então me deixe em paz e vamos seguir logo para essa porcaria de avião.
– Mas não era um jatinho? – tive que provocar. E Richard respondeu mostrando o dedo do meio. Algo muito sério estava acontecendo aqui e eu precisava saber o que era.
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