sábado, 16 de maio de 2015

KOGUT -'Sete vidas' e a arte de valorizar o ato de 'discutir a relação' . Com texto primoroso

'Sete vidas' e a arte de valorizar o ato de 'discutir a relação'
 
 
casal.jpgMiguel (Domingos Montagner) e Lígia (Débora Bloch) (Foto: TV Globo)
Poucas vezes se viu o ritmo de uma trama ser tão bem tratado como em “Sete vidas”. A autora, Lícia Manzo, lança mão dos recursos clássicos, como a reiteração. Mas faz isso com tamanha elegância e habilidade que neutraliza seus efeitos deletérios. Ninguém jamais tem a impressão de já ter visto alguma cena. O enredo corre basicamente em duas narrativas que se revezam. A dos acontecimentos em si e a dos personagens elaborando o que houve, como no divã. É que “Sete vidas” tem ação, mas também muita d.r..
Um exemplo. Depois do reencontro com Miguel (Domingos Montagner), Lígia (Débora Bloch) perdeu o chão. Embora casada com um homem maduro e amoroso, Vicente (Ângelo Antônio), e apesar de ter construído com ele uma relação sólida, balançou. Acabou beijando Miguel num encontro casual na rua. Depois disso, transtornada, desapareceu de casa por um dia e uma noite. Quando voltou, era aguardada por um preocupadíssimo Vicente. “Precisava de um tempo para ter uma pista, um sinal de que nada mudou”, disse ela, começando sua explicação. Mas já era. Na cena seguinte, ela está conversando com Isabel (Mariana Lima) sobre essa crise. Mas, diferentemente do que acontece muito nas novelas, o papo não repetiu o que já tínhamos visto no encontro com Vicente. Dessa vez foi a psicanalista que desabafou. Se sente culpada por ter tentado controlar a vida da amiga, omitindo dela o fato que Miguel estava vivo. Depois disso, o ambientalista tentou reatar com Lígia, que voltou a explicar o que sente para a irmã. Nessas conversas há sempre uma informação nova, nem que seja algo subjetivo.
Com tudo isso, a autora dribla sempre (ou quase) aquela sensação de que quem pular um capítulo não perde nada. Perde, sim. Porque “Sete vidas” tem, ainda por cima, um texto primoroso. É o bom português, mas na chave coloquial que a naturalidade exige. Isso tudo sem falar no trabalho dos atores (viva Débora Bloch). Uma ótima novela.

NOTA 10

Para a cena final de “Sete vidas” anteontem. Foi quase um bloco reunindo os irmãos num parque de diversões, com poucos diálogos, só na base da troca de olhares e do mais absoluto amor fraterno. Foi lindo e emocionante

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