sábado, 30 de maio de 2015

Ilusões - Capítulo 04: Amie - A garota que não se iludia

Amie - A garota que não se iludia

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Amie é a dona de longos cabelos pretos encaracolados e de intensos


olhos verdes esfumaçados que segue à risca o lema “Live Free or Die”. Sentia 


que as pessoas estavam presas em um mundo de ilusões que não 


correspondia ao seu e isso a incomodava. Muito.


Entediada com tantas pessoas fajutas e desordenadas ao seu redor, 


certo dia ela resolveu pegar o primeiro ônibus que viu pela frente e fugir, rumo 


a lugar nenhum. Mas não precisava ser uma fuga permanente, não precisava 


ser algo extremista e/ou exagerado. Podia ser algo simples e de curta duração, 


mas que lhe fizesse bem, que lhe permitisse sair da caverna onde estava 


escondida. 


Da janela reluzente do ônibus avistou a praia. Pessoas dançavam 


revezando os pés, os casais, os copos cristalizados e isso tudo parecia muito 


interessante. Amie desceu do ônibus e não custou muito para chegar até 


aquelas pessoas. Podia não conhecê-los, mas, naquele instante, isso não 


parecia ter grande importância. 


- Hey, porque tu estás sem copo? – questionou John percebendo a 


chegada da jovem. – Venha cá, vamos buscar um copo pra ti. - e a puxou pelo 


braço como quem já esperasse pela sua chegada. 


- Eu me chamo Amie. 


- John, prazer em conhecê-la Amie. Tu não vieste no ônibus da 


faculdade com a gente, viestes? 


- Faculdade? – e Amie deu uma gargalhada espontânea que respondia 


instantaneamente a pergunta de John. 


- Que bom que viestes. Venha, vamos dançar. 


E os dois se juntaram aos outros 46 jovens naquele fim de tarde. Amie 


sentiu-se realizada ao ver a naturalidade daquelas pessoas embriagadas e não 


demorou muito para que ela chegasse ao mesmo ponto de embriaguez que os 


outros. Dançando, eles não pareciam ter classes sociais diferentes, não 


pareciam estudar Direito ou Engenharia da Computação, não pareciam 


preocupados com o que aconteceria no futuro de suas vidas, tampouco 


chateados por não terem rios de dinheiro ao seu redor. Pareciam-se, de certa 


forma, com Amie. 


As pessoas iam puxando a morena para dançar e se empolgavam a 


cada desdobramento corporal que ela fazia. Amie fechava os olhos e deixava 


que o ritmo eletrônico de uma música qualquer balançasse seus cabelos 


naturalmente. Parecia tudo muito interessante. Ela sentia-se interessante como 


há tempos não se sentia. 


- O mundo precisava saber que isso existe. 


- Isso o que? – perguntou John sentando-se na areia. 


- Esse mundo em que todos se jogam de cabeça. – e naturalmente ela 


envolveu a cabeça de John com seus braços e o puxou para trás, deixando a 


cabeça do jovem por cima de sua barriga. – Tu estás me esmagando! 


- Quem me puxou foi tu! 


E em seguida um bando de gente se embolou no chão da areia junto 


com os dois, dando inúmeras risadas. Dançaram de novo. Beberam de novo. 


Molharam-se de novo. Deram risadas de novo. Tudo como se ainda não 


tivesse ocorrido, como se o tempo não tivesse passado. 


Depois de entregar um drink gelado para John, Amie notou que o olhar 


do rapaz estava muito bem direcionado aos seus olhos. 


- Eu não sei por que tu viestes pra cá hoje, não sei quem te convidou. 


Mas eu gostei. Obrigado pelas felicitações. 


- Felicitações? 


- Hoje é o meu aniversário. 


- HAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHA. – e a jovem ficou alguns instantes 


rindo sozinha. - Meu Deus, eu sou a furona da festa não é mesmo? 


- A furona mais interessante que eu podia ter tido na minha festa. - e 


John segurou a nuca de Amie, a trazendo para perto de seu corpo, para perto 


de sua respiração. 


- Eu não me importo em ser a mais interessante. Só me importo em 


fazer com que as coisas que faço valham a pena. 


- Está valendo? 


- Mais do que eu podia imaginar. 


E John puxou de leve o cabelo dela, grudando seus lábios carnudos na 


boca delicada e desenhada de Amie. Seus corpos seguiram o ritmo das 


músicas, seus lábios o ritmo das línguas. 


- Onde está o botão de pausa? Preciso te ter na minha vida mais vezes. 


- Como se eu fosse uma mera música que tu pausa e continua na hora 


que bem entender? 


- Uma música minha. Que eu crie, cantei, gravei. Que eu cuido. Que eu 


ouço e repito incansavelmente sem reclamar, sem questionar. 


- Que romântico John! E entediante também. HAHAHAHAHAHAHAHA. 


Preciso ir, obrigada pela tarde, pela noite. Por isso... – e seguiu caminhando 


pela praia naquela manhã que começava preguiçosa, bem como os diversos 


corpos espalhados pela praia. 


- Onde tu vais? – e John começou a segui-la. – Fica mais um pouco. 


- É esse o problema cara. Se eu ficar vai ficar clichê. Já pensou que 


droga isso seria? 


- Como posso te encontrar? Onde posso te encontrar? Quando? 


- Só vais me encontrar quando não pensares em me encontrar. 


E a jovem Amie parecia fazer questão de ser complexa. Ou será que a 


vida de John que era complexa demais para a simplicidade da vida de Amie? 


Ilusão? Realidade? As histórias e os fatos se mesclaram e se fundiram como 


as mais belas músicas nos mais aguçados ouvidos. E isso tudo ocorreu em 


qualquer lugar, com quaisquer pessoas... Somente nos ouvidos de quem se 


dispôs a ouvir.



Fim?

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