Os Dez Mandamentos prova que Record sabe fazer novela quando é conveniente

Desde que estreou a pouco mais de três semanas, Babilônia, atual trama das 21h da Rede Globo, que raramente começa antes das 21h20, está dando o que falar. Primeiro uma ameaça de boicote devido ao beijo de Teresa (Fernando Montenegro) e Estela (Natália Timberg) rolou na mídia, depois dizem que foi a novela Carrossel do SBT quem mingou a audiência da trama e por último sobrou até para Os Dez Mandamentos da Record a culpa do pífios números da trama da Globo. Tudo balela, o fracasso e o sucesso de uma novela depende somente dela.

Enquanto a trama das 9 não acontece devido a falta de história, sim porque é isso que falta de verdade, a Record vem na contramão e apresenta uma trama que pode ser clichê, já que é retirada de um livro da Bíblia, mas que traz um frescor novo a um antigo filão.

Centrada na história de Moisés (Guilherme Winter), a trama apresenta muito mais do que a Bíblia diz, sempre mostrando personagens com estereótipos comuns de bonzinhos e mauzinhos. Os Dez Mandamentos humaniza personagens que eram vistos como algo intocável ou de bondade ou de maldade.Todos possuem duas facetas, o que torna cada vez mais interessante.

Tendo como referência somente a Bíblia ou outras mídias que já apresentaram a mesma trama, Os Dez Mandamentos recria seu próprio Egito com uma cenografia, figurino e caracterização com um tom acima do que foi o pais naquela época, mas TV é isso, é beleza e em nenhum momento isso torna a trama menos interessante. A direção segura e a excelente fotografia tornam a trama cada vez mais com cara de cinema. Ponto pra trama

Os Dez Mandamentos começou com um texto e até o capítulo de ontem terminou com outro. Sim, os primeiros capítulos da trama foram recheados de textos empostados e didáticos que parecem que foram escritos pelos autores do Telecurso 2000. Agora o texto caminha para o mais natural possível, já que é uma trama épica repleta de nomes que não fazem parte de nossa cultura e por isso o público demorou para memorizar os personagens.

O curioso de Os Dez Mandamentos é que ele vem suceder Vitória, trama escrita por Cristianne Fridman, que tentou a todo custo levar sua trama com o máximo de recursos que tinha. Vitória além de mau divulgada era só um tapa buraco na emissora que a tratava mais como prejuízo do que como potencial lucro. Cara e muito bem produzida, Os Dez Mandamentos tem ganhado destaque em todos os programas da casa e chega em um momento em que a maioria das emissoras tem cortado gasto. Quer dizer que pra divulgar Vitória não tinha grana e pra divulgar Os Dez Mandamentos tem?!

Nada contra a produção ter temática bíblica, pelo contrário, esse tipo de programa tem público cativo, mas falta a Record entender que novela é coisa cara e por isso perder dinheiro não é questionável. Será que sua sucessora Escrava Mãe terá a mesma importância para a direção da casa? Só o tempo dirá. Só por ser liderada por evangélicos que uma produção desse tipo foi feita ou o objetivo é seguir por um novo mercado? Talvez as duas coisas.

Enquanto Os Dez Mandamentos se utiliza de uma história conhecida, com outros ingredientes folhetinesco para aumentar a audiência da emissora devemos esperar por grandes surpresas, afinal a bíblia é repleta de tramas com crueldade e injustiças, o que pode trazer uma nova versão para a história. Enfim enredo não vai faltar e alcançar os dois dígitos esperados pela Record não vai ser necessariamente graça de Deus e sim de trabalho em equipe. Esperamos por uma boa história e pra isso precisamos saber que elas existem, portanto Record:divulguem mais suas novelas.