quinta-feira, 22 de março de 2018

A Ilha || Capítulo 09



A Ilha - FINAL

Acordei ensopada de suor. E por incrível que pareça eu me sentia muito melhor. Era como se tivesse tirado um longo cochilo. Apesar do calor, estava bem confortável. Confortável o suficiente para fechar os olhos e dormir outra vez. E então me lembrei de Lila.
– Richard! – berrei saltando do lugar onde estava deitada na esperança de tudo não ter sido um pesadelo.
– Estou aqui! – ouvi a voz de Richard vinda de um canto do quarto. Ou seja lá o lugar onde eu estava.
Esfreguei meus olhos na tentativa de enxergar melhor. Não estava identificando o lugar. E a pouca luz também não ajudava muito. Só pude notar que estava em uma cabana. E mais uma vez quase morri de susto quando o ser mascarado apareceu. Na penumbra sua máscara era ainda mais assustadora.
– Que bom que acordou! – o mascarado trazia uma tigela em suas mãos – Deixe-me dar uma olhada nesse seu ferimento.
– O que está acontecendo? – perguntei enquanto o mascarado se aproximava para me examinar.
– Já se esqueceu de tudo? – Richard estava imóvel – Esse doido nos sequestrou!
– Eu não te obriguei a vir aqui! – o mascarado falou sem desviar atenção da minha perna.
– Mas é claro que eu viria! – Richard se levantou – Você estava levando a Susi para sabe-se lá o que é este lugar.
– Este lugar é a minha tribo! – o mascarado não pareceu se ofender de verdade.
– Savite? – ouvi uma voz envelhecida vindo da entrada da cabana – Ela já está melhor?
– Sim, zabi! – Savite, o mascarado, virou o rosto para o zabi. Pude notar um longo cabelo loiro por trás da máscara. Estava preso com uma fita branca que parecia contornar toda a cabeça. – Estou vendo como está ficando a cicatrização.
Notei que o tal zabi também usava uma máscara que cobria quase todo o corpo. Era toda em tons de azul e vermelho. Tinha um longo nariz desenhado e uma boca pequena, mas cheia de dentes. Os olhos estavam fechados, como se estivesse fazendo uma prece. Encima da cabeça havia várias penas e as orelhas eram dois chifres parecidos com os de carneiros.
– Acha que ela se recupera rapidamente? – zabi se aproximou de mim.
– Acho que em um ou dois dias ela já estará totalmente recuperada. – Savite respondeu.
– Como assim um ou dois dias? – me assustei – Alias, fiquei quanto tempo desacordada?
– Exatamente cinco horas! – Savite respondeu enquanto molhava um pano na tigela em sua mão.
– Cinco horas? – gritei – Como assim cinco horas? E a Lila?
– Seu amigo rabugento já nos falou sobre a sua yvah. – Savite esticou minha perna delicadamente.
– Minha o que? – estranhei a palavra.
– Yvah! – Savite passou o pano molhado em meu ferimento. Gritei. Aquilo ardia demais – Yvah é como chamamos os... Como vocês dizem mesmo?
– Irmãos! – Richard resmungou.
– Isso! – Savite apertou o pano em minha perna. Soltei outro grito – Não se preocupe. Já mandei alguns homens irem atrás dela.
– Mas você nem a conhece! – agora eu quem resmungava.
– E por isso mesmo a acharemos mais rápido. – senti que Savite sorriu. Mas não da para ter certeza dessas coisas apenas pelo tom de voz – Como disse antes, não aparecem muitas pessoas diferentes por essa região. Na realidade vocês são as primeiras que vejo. Não creio que tenha outras espalhadas por ai.
– Agora o melhor que tem a fazer é descansar! – o tal zabi passou a mão em minha testa – Sua febre já abaixou. Isso é bom. Achei que Savite havia errado na dose do remédio.
– Zabi! – Savite pareceu aborrecido – Acha que sou um louco irresponsável? Jamais colocaria a vida de ninguém em risco!
– Vamos parar com essa conversa! – falei alto – Não estou gostando nada disso. Se puderem me dar licença, gostaria de conversar com o Richard a sós.
– Como queira! – Savite retirou o pano de minha perna. Um alivio.
Tanto Savite quanto o zabi se retiraram da cabana sem rodeios. Richard aproximou o lampião que estava no meio da cabana para mais perto de nós dois. Pude notar que o ferimento em minha perna já não estava tão horrendo. Estava bem mais claro e havia diminuído o tamanho.
– Conte-me tudo desde o início! – fui direto ao ponto.
– Ao que parece o primeiro efeito do veneno da tal coisa que te pegou era o desmaio. – Richard começou – E, como já deve imaginar, você desmaiou no colo desse aí.
– Atenha-se aos fatos! – dei um tapa no ombro dele – Sem implicâncias! – Richard não mostrou nenhuma reação, apenas continuou.
– Se te interessa saber, o nome da tal coisa que te mordeu é Gruco! – Richard revirou os olhos.
– O que foi? – perguntei.
– Nada! – Richard tentou disfarçar.
– O que houve? Você não faria essa cara por nada!
– Savite me deu uma aula sobre Grucos. – Richard fez careta.
– E qual o problema? – perguntei.
– Ele parecia um professor chato que eu tinha na época que cursei biologia!
– Richard – pensei em questiona-lo sobre essa história dele ser biólogo, mas desisti – Continue.
– Como dizia. Você desmaiou e ele saiu correndo com você pelas árvores – estava adorando as caretas que o Richard fazia enquanto contava isso.
– Pelas árvores? – provoquei – Tipo Tarzan e Jane? Que lindo! Pena eu estar desacordada. Sempre foi o meu sonho ser carregada por um homem másculo e selvagem.
– Que sonho podre! – Richard continuou suas caretas – Mas eles não tem nada de selvagem. Alias, isso me surpreendeu. Eles tem uma verdadeira civilização perdida!
– Como assim? – fiquei curiosa.
– Venha! – Richard me pegou no colo.
– O que é isso? – quase gritei – Virei mocinha indefesa?
– Não diga nada! – Richard fez sinal de silêncio apenas com a boca – Veja com seus próprios olhos.
Quando Richard me tirou da cabana eu fiquei completamente perplexa. Aquilo não podia ser real. Era uma verdadeira cidade. Casas de pedras e tijolos, pequenas pirâmides, estátuas, praças. Tudo com muita cor, muita vida. Mesmo estando de noite, pude sentir a energia daquelas cores.
Olhando melhor notei muitas pessoas mascaradas. Cada uma com um estilo diferente, mas todas igualmente apavorantes. Pelo que notei apenas as mulheres e crianças não usavam máscaras. Mas, em compensação, as mulheres usavam algo semelhante a uma coroa, com muitas pedras coloridas. Seriam preciosas? Usavam ainda algo que escondia o nariz e colares que tapavam todo o busto. E também usavam tangas. A única diferença era que as tangas das mulheres eram maiores e mais largas que as dos homens. As crianças eram as únicas que não usavam nada. Tinham o rosto e partes do corpo pintados e nada mais.
– Susi! – Savite gritou enquanto corria em minha direção – O que está fazendo fora da cama? – Savite me tomou do colo de Richard, que não gostou nenhum pouco.
– Vocês estão pensando que sou uma bola de tênis para ficarem me jogando de um lado para o outro? – briguei – Deixe-me ficar de pé!
– Mas nem pensar! – Savite entrou na cabana – Você está sob meus cuidados. Não pode sair da cama!
– Então poderia ter me levado para um lugar melhor! – reclamei – Vi que vocês tem instalações melhores do que essa aqui.
– Eu até tentei te levar para minha casa, mas esse seu amigo não deixou. – Savite apontou para Richard com os olhos.
– Eu nem te conheço. – Richard quase cuspiu – Acha mesmo que deixaria a Susi ir para sua casa?
– Richard! – falei alto – Que vergonha!
– Mas não tem importância. – Savite me pôs na cama novamente – Amanhã mesmo você vai lá para casa.
– Não vai não! – Richard berrou.
– Richard! – falei calmamente – Sei que já estava se acostumando com apenas nós dois. Eu também já estava acostumada a viver apenas com a Lila e estranhei bastante quando você chegou. Mas esse não é o momento para ciúmes.
– Ciúmes? – Richard quase gaguejou – Faça como quiser. Só não se esqueça que tem uma onça e mais sabe-se lá o que rondando por aí.
– Onça? – Savite estranhou.
– Onça sim! – Richard provocou – Vai me dizer que não sabe da onça, senhor sabe-tudo?
– Não sabemos se é uma onça. – situei Savite – Mas quando estávamos do outro lado da ilha achamos algumas pegadas enormes, mas nunca a encontramos a sua dona.
– As pegadas se pareciam com isso aqui? – Savite rapidamente retirou um pequeno pote marrom de sua máscara, molhou o dedo e desenhou em sua outra mão uma pegada.
– Era exatamente assim! – estava surpresa com a semelhança.
– Então ela voltou! – Savite quase perdeu a voz.
– Ela quem? – Richard fez cara de espanto.
– Tajita! – Savite parecia ter medo de pronunciar esse nome – Não acredito que iremos começar tudo de novo!

quarta-feira, 21 de março de 2018

A Ilha || Capítulo 08



A Ilha

Tentei não ficar pensando demais no Richard. Não queria deixar que nada tirasse o meu foco em achar a Lila. Mas cada vez que olhava para ele... Que tipo de mistério o Richard esconde?
Minha perna ainda doía, mas já estava bem melhor. Assim que consegui ficar de pé não quis esperar nenhum segundo para seguir em frente. Não sabia exatamente para onde estávamos indo, só sabia que precisávamos continuar.  Mas algo começou a me incomodar.
– Richard? – parei um pouco – Você também está com essa sensação?
– Que sensação? – ele franziu a sobrancelha.
– Essa sensação de estarmos caminhando, caminhando e não sairmos do lugar.
– Acho que não. – ele respondeu sem muito entusiasmo – Deve ser impressão sua.
– Não sei não. – continuei a caminhada – Esse lugar é muito estranho. E essa sensação de não estar indo para lugar nenhum...
– De fato tudo aqui está ficando muito parecido. – Richard começou a observar em volta.
– Acha que estamos perdidos? – perguntei.
– Espero que não. – Richard continuava analisando o local – Já se passaram quantas horas desde que entramos neste lugar? Duas?
– Você acha mesmo que estou contando? – gritei sem motivo. Estava nervosa com a situação. Mas acho que Richard já estava se acostumando com esse meu jeito.
– É melhor seguirmos em frente e ficarmos atentos.
– Já que não temos muito que fazer. – tive que concordar.
Continuamos a caminhada. Desta vez fiquei mais atenta. Tentei reparar em cada detalhe, mas estava difícil. Depois que saímos do “rio de sangue” seguimos por um tipo de deserto, porém ao invés de ter areia para todo o lado, era um matagal que nos cercava. Um matagal de folhas secas. Já estava tendo certeza que estávamos andando em círculos quando Richard me parou.
– Susi? – ele parecia feliz – A sua sensação de estarmos perdidos ainda existe.
– Sim. – respondi tentando achar o caminho que havíamos trilhado.
– Bem – Richard parou – Acho que essa sensação vai acabar agora.
Definitivamente eu já não estava entendendo mais nada. O que eu estava vendo não fazia sentido algum.
– Mas que lugar é esse? – perguntei para mim mesma.
– Não sei, só sei que é lindo! – Richard estava admirado.
– Mas como? – ainda estava sem entender – Como não vimos isso antes? Um lugar assim era para ser percebido de longe.
– E olhe para trás! – agora Richard parecia um pouco assustado.
Já não víamos mais nada do que havia ficado para trás. Estávamos totalmente dentro da nova paisagem e isso era apavorante.
Apesar de tudo esta parte da ilha era mais bonita que as anteriores. Mais bonita até que a parte onde morávamos. Era um local repleto de árvores de todo tipo. Elas estavam cobertas pela vegetação e em algumas delas nasciam flores coloridas. Existia também um caminho de pedra que parecia ter sido feito a mão. E um belo riacho, sem nenhuma anormalidade aparente. Até o céu parecia mais azul nesta parte da ilha. E soprava um vento tão gostoso e que me fez sentir tão bem. Podíamos ouvir sons de aves e da água batendo nas pedras. Se fechasse os olhos e me concentrasse apenas nos sons poderia até relaxar e esquecer de tudo.
– Será que dá pra beber? – Richard se aproximou do riacho.
– Você está maluco? – quase dei um salto – Olha como esse lugar apareceu para nós. Tem alguma coisa muito errada nisso aqui.
– Mas estou morrendo de sede! – Richard realmente parecia com sede. E eu também.
– Não sei se teria coragem. – falei com a boca rachando de sede.
– Pode ser um oásis! – Richard tentava me convencer.
– Pela forma como isso surgiu e mais fácil ser uma miragem.
– Se você não quer, eu não posso fazer nada! – Richard se agachou para pegar água.
Antes mesmo que Richard pudesse tocar na água uma flecha caiu bem no meio de suas pernas. Richard tombou para trás assustado e conferindo se estava inteiro. Poderia ter rido da situação se não estivesse tão apavorada.
– Não faça isso! – uma voz masculina surgiu do meio da mata – A não ser que esteja querendo ser comido de dentro para fora.
– Quem está aí? – perguntei.
Richard ainda estava apavorado com a flechada que quase levou. Não sei se notou a voz, mas eu estava detestando cada vez mais tudo o que estava acontecendo desde que amanheceu o dia.
– Seja quem for, apareça! – tentava não demonstrar medo. Estava difícil.
– Não se preocupe! – percebi que a voz vinha do alto – Não vou lhes fazer nenhum mal.
– Quem me garante isso? – tudo o que vivi já me dava o direito de duvidar.
– Terão que confiar em mim! – a voz agora estava mais próxima.
No mesmo instante ouvi o som de algo caindo das árvores e a nítida sensação de que alguém estava atrás de mim. Com muita coragem me virei e levei um susto grande o suficiente para me fazer cair no chão.
A julgar pelo timbre da voz e pelos fortes braços, eu estava diante de um homem. Não pude ter a total certeza devido à máscara que ele usava, cobrindo seu corpo da cintura para cima por inteiro. Era uma máscara apavorante, não só pelo tamanho.
Feita de madeira, a máscara tinha vários desenhos esculpidos. Na testa podíamos notar uma pessoa tocando uma flauta ou qualquer coisa do tipo e uma serpente sendo hipnotizada. Do lado esquerdo havia um sol, enquanto do lado direito havia um lagarto verde cujo rabo contornava o olho e a cabeça tomava quase todo o queixo. Dos lados havia um par de brincos que se apoiavam nos ombros. Provavelmente o local escolhido para amarra a máscara ao corpo e deixar os braços livres. Reparando melhor notei dois buracos próximos ao que seria o nariz, de onde podia se enxergar – bem escondido – os olhos da pessoa mascarada. Olhos selvagens, de um verde exuberante.
Da parte de baixo da cintura não havia muito que falar além de que o sujeito usava uma tanga que ia até o joelho. Nos pés havia um tipo de tornozeleira feita de folhas e círculos brancos pintados em todos os dedos.
– Quem é você? – Richard finalmente notou a presença do ser mascarado.
– Que forma estranha de agradecer quem acaba de lhe salvar a vida! – ele parecia estar sendo sarcástico. Mas não tinha certeza.
– Do que está falando? – Richard estava ficando irritado.
– Deixe-me demonstrar! – o mascarado seguiu em direção ao riacho, arrancou um fruto estranho, parecido com um abacaxi sem espinhos, e molhou parte dele na água.
– E daí? – Richard perguntou – Não aconteceu nada.
– Tem certeza? – senti que o mascarado havia dado um leve sorriso. Ou pelo menos achei ter ouvido isso.
O ser mascarado retirou um punhal de sua grande máscara e cortou o fruto ao meio. Nos aproximamos para ver o que estava acontecendo e ficamos sem ação. Pequenas gotículas de água se movimentando dentro do fruto, que aos poucos estava desaparecendo.
– Que merda é essa? – Richard se afastou uns três passos.
– São aquoraes! – o mascarado falava de uma forma como se tudo aquilo fosse muito natural para ele.
– E o que são esses aquaraes? – perguntei.
– Quo! – o mascarado me corrigiu – Aquoraes! São seres carnívoros que se aproveitam de sua aparência semelhante à água para se alimentar. Geralmente suas presas são animais que acabam se perdendo do seu caminho natural. Já vi muitos morrerem assim, mas nunca pensei que encontraria humanos por aqui.
– Como assim humanos? – me assustei – Você não é humano?
– Até que provem o contrario, sou tão humano quanto vocês! – esse mascarado parecia ter bom humor – Agora me contem o que estavam fazendo aqui?
– Espere! – Richard interrompeu – Antes me responda quem é você?
Assim que Richard terminou de falar o mascarado deu um salto incrivelmente alto. Quase não pude notar devido à velocidade. Quando olhei de volta ele já estava nos galhos de uma árvore.
– Vocês são os estranhos aqui! – o mascarado ficou pendurado de cabeça para baixo bem ao meu lado, quase me matando de susto – Eu faço as perguntas!
Por sorte tinha mais pano enrolado naquela tanga do que imaginei. Tudo o que deveria estar coberto estava coberto.
– Olha aqui nós já passamos por muitas coisas... – Richard tentou falar, mas foi interrompido.
– O que é isso? – o mascarado analisava a minha perna arrancando o pedaço de pano que Richard tinha amarrado – Vocês passaram pelo Rio Rubro? Isso é péssimo! Quanto tempo?
– Que diferença isso faz? – Richard estava ficando nervoso. Ou melhor, mais nervoso.
– Toda! – o mascarado desceu da árvore – Se passar doze horas sem esse ferimento ser tratado você pode perder sua perna!
– O que? – gritei – Era só o que me faltava!
– Vamos! – o mascarado mais uma vez me assustou me tomando no colo.
– Espere! – Richard o segurou pelo ombro – Vamos pra onde?
– Para a minha casa! – o mascarado respondeu um pouco apressado – Tenho exatamente o que ela precisa. E não vou hesitar em dar a ela.
– Do que você está falando? – perguntei assustada.
– O remédio! – ele continuava a falar em um tom acelerado. Só então notei que seus pés ainda estavam fazendo o movimento de corrida – Agora vamos que o tempo está correndo! Ou você quer amputar sua perna?
– Não sei se devo confiar em você! – estava com medo.
– Pode confiar! – o mascarado respondeu mais firme desta vez.
Neste momento seus olhos me encaravam de uma forma que me fez querer confiar. Era um jeito diferente. Um olhar forte, mas doce. Estava ficando confusa. Tudo começou a se apagar. A escuridão tomou conta e tudo o que eu conseguia enxergar eram os olhos verdes do mascarado e a sua voz dizendo:
– Savite! Meu nome é Savite!

terça-feira, 20 de março de 2018

A Ilha || Capítulo 07



A Ilha

Já estava surtando com as milhões de possibilidades do que poderia ter acontecido com a Lila. Minha cabeça parecia não ter mais espaço. Minha agonia era tanta que pareceu alongar ainda mais o caminho. Tinha a sensação de estar andando horas.
– Você está bem? – Richard perguntou.
– Minha irmã sumiu em um universo paralelo onde tudo pode acontecer – quase gritei – acho que está tudo beleza!
– Não precisa ser tão grossa! – ele fechou a cara.
– Richard, por favor, sem draminha! – o ignorei.
Finalmente chegamos à passagem. Por uma rápida fração de segundos eu quase recuei, mas eu precisava achar Lila a qualquer custo. Ela era a única coisa que havia sobrado da minha vida passada. Não suportaria perde-la também.
– Por onde vamos procurar primeiro? – Richard me irritava por qualquer coisa. Sei que ele não tem culpa, mas não consigo evitar. Preferi não responder.
Acabei seguindo meu instinto e continuando em frente. Corri por entre a plantação de trigo sem olhar para os lados. Ouvi Richard resmungar alguma coisa, mas o ignorei novamente. A plantação era muito grande e por vários momentos achei que pudesse estar perdida. Estávamos quase saindo da plantação de trigo quando Richard me trouxe de volta com uma pergunta perturbadora.
– Mas que cheiro horrível é esse? – Richard tapou o nariz imediatamente.
Como se tivesse sido acordada de um sonho, meus sentidos voltaram ao normal. Só então reparei que estava com alguns arranhões, trigo grudado no cabelo e um pequeno corte no pé. E, claro, comecei a sentir o mau cheiro que Richard falou.
– Meu Deus, Richard! – virei o rosto encostando no ombro de Richard.
Era um cemitério de ossos. Muitos ossos espalhados por todo lugar. Algo realmente terrível. E nem queria imaginar do que ou de quem eram aqueles ossos.
– Calma Susi! – Richard acariciou minhas costas – Pelo que estou vendo não são ossos humanos.
Tomei coragem e resolvi olhar novamente. De fato não eram ossos humanos. Mas a quantidade era considerável. Os ossos pareciam ser de aves, javalis e outros animais selvagens.
– Você acha que...
– Estou quase tendo certeza! – interrompi a pergunta do Richard. Sem dúvida só havia um animal naquela ilha que poderia fazer esse tipo de estrago: A onça!
– E vai continuar por esse caminho? – Richard tentava se aproximar, mas evitei que me tocasse. Estava muito tensa para qualquer tipo de contado físico.
– Richard, é a minha irmã. – consegui ser mansa com ele – Não posso desistir dela. São palavras clichês, mas eu sei que ela não desistiria de mim se estivesse em meu lugar.
– Está certo! – ele tentou segurar minha mão, mas fugi novamente.
– Você não tem obrigação nenhuma de me acompanhar. – tentava fazê-lo voltar – Pode seguir sua vida.
– Susi – mais uma vez Richard tentou me tocar, mas desta vez falhei em fugir – enquanto estivermos nesta ilha a minha vida será com você. – Richard corou – E com a Lila, claro.
– E se, por um milagre, conseguirmos sair daqui? – não sei o que me deu para fazer essa pergunta – Vou, digo, vamos continuar sendo sua vida?
– Isso vai depender de você! – Richard me puxou para perto dele.
– Por favor, Richard! – o empurrei – Isso não é hora para este tipo de conversa. E eu já disse que não adianta tentar nada comigo. Eu nem te conheço!
– Entendo – ele respirou fundo – Mas, se ninguém cair com outro avião aqui, seremos só nós. Talvez só nós pelo resto da vida.
– O resto da vida é muito tempo. – não estava acreditando no que iria dizer – Até o resto da vida acabar muito coisa pode acontecer.
Seguimos em silêncio pelo cemitério de ossos. Era extremamente desagradável. Se a Lila estivesse fazendo algum tipo de brincadeira comigo ela iria me pagar muito caro. Mas não conseguia sentir que pudesse ser uma brincadeira. Infelizmente algo me dizia que a Lila não estava segura. Algo sério havia acontecido com ela.
O caminho estava difícil devido ao mau cheiro. Por várias vezes tive que tapar o nariz. E o caminho era longo. Não conseguia entender como não tinha enxergado este lugar quando estava na entrada deste “mundo paralelo”. Aliás, a impressão que tinha era de que quanto mais andava mais o lugar crescia. Tive a sensação de ter me afastado por completo da ilha. Era apavorante, mas nada comparado ao que viria depois.
– Mas que porcaria é essa? – Richard gritou.
Estávamos diante de um grande rio. Um rio de águas vermelhas.
– E agora? – me desesperei – O que eu vou fazer?
– Calma! – Richard olhava para os lados – Deve haver outro caminho.
Comecei a observar também. De fato havia outro caminho, mas teríamos que fazer uma longa volta. E meus instintos já não me apontavam mais para qual direção seguir. Estava completamente sem ação.
– Quer arriscar? – Richard perguntou apontando com os olhos em direção ao rio.
– Arriscar o que? – me fiz de desentendida – Atravessar o rio?
– É o caminho mais rápido! – ele continuava apontando para o rio.
Confesso que fiquei em dúvida sobre atravessar ou não aquele rio vermelho. A julgar pelos ossos atrás de mim era provável que aquilo nem fosse exatamente um rio. Fiquei toda arrepiada só de imaginar.
– Vamos pelo menos ver se não é muito fundo. Com essa cor fica difícil saber! – comecei a procurar uma pedra.
– Tome! – Richard encontrou antes de mim.
– Obrigada. – respondi sem pensar. Richard sorriu.
Atirei a pedra. E ficamos esperando. E esperando. E esperando. E esperando.
– Mas que raio de lugar é esse? – Richard pareceu ler meus pensamentos.
– E agora? – comecei a ficar aflita – O que vamos fazer?
– Creio que você saiba nada.
– Óbvio! – não estava gostando da ideia.
– Então vamos? – ele novamente apontou para o rio, mas desta vez usou as mãos.
– Que seja o que Deus quiser! – tomei coragem – Mas uma coisa eu te juro: se isso for brincadeira da Lila...
– E pode contar com a minha ajuda para o que você for fazer! – ele deu um leve sorriso, mas logo desfez. Provavelmente se lembrou que a situação era grave.
– Richard – o segurei antes dele entrar no rio – Desculpa por minhas grosserias.
– Tudo bem! – ele deu outro sorriso leve – Vamos então?
– Vamos!

segunda-feira, 19 de março de 2018

A Ilha || Capítulo 06



A Ilha

Já estava surtando com as milhões de possibilidades do que poderia ter acontecido com a Lila. Minha cabeça parecia não ter mais espaço. Minha agonia era tanta que pareceu alongar ainda mais o caminho. Tinha a sensação de estar andando horas.
– Você está bem? – Richard perguntou.
– Minha irmã sumiu em um universo paralelo onde tudo pode acontecer – quase gritei – acho que está tudo beleza!
– Não precisa ser tão grossa! – ele fechou a cara.
– Richard, por favor, sem draminha! – o ignorei.
Finalmente chegamos à passagem. Por uma rápida fração de segundos eu quase recuei, mas eu precisava achar Lila a qualquer custo. Ela era a única coisa que havia sobrado da minha vida passada. Não suportaria perde-la também.
– Por onde vamos procurar primeiro? – Richard me irritava por qualquer coisa. Sei que ele não tem culpa, mas não consigo evitar. Preferi não responder.
Acabei seguindo meu instinto e continuando em frente. Corri por entre a plantação de trigo sem olhar para os lados. Ouvi Richard resmungar alguma coisa, mas o ignorei novamente. A plantação era muito grande e por vários momentos achei que pudesse estar perdida. Estávamos quase saindo da plantação de trigo quando Richard me trouxe de volta com uma pergunta perturbadora.
– Mas que cheiro horrível é esse? – Richard tapou o nariz imediatamente.
Como se tivesse sido acordada de um sonho, meus sentidos voltaram ao normal. Só então reparei que estava com alguns arranhões, trigo grudado no cabelo e um pequeno corte no pé. E, claro, comecei a sentir o mau cheiro que Richard falou.
– Meu Deus, Richard! – virei o rosto encostando no ombro de Richard.
Era um cemitério de ossos. Muitos ossos espalhados por todo lugar. Algo realmente terrível. E nem queria imaginar do que ou de quem eram aqueles ossos.
– Calma Susi! – Richard acariciou minhas costas – Pelo que estou vendo não são ossos humanos.
Tomei coragem e resolvi olhar novamente. De fato não eram ossos humanos. Mas a quantidade era considerável. Os ossos pareciam ser de aves, javalis e outros animais selvagens.
– Você acha que...
– Estou quase tendo certeza! – interrompi a pergunta do Richard. Sem dúvida só havia um animal naquela ilha que poderia fazer esse tipo de estrago: A onça!
– E vai continuar por esse caminho? – Richard tentava se aproximar, mas evitei que me tocasse. Estava muito tensa para qualquer tipo de contado físico.
– Richard, é a minha irmã. – consegui ser mansa com ele – Não posso desistir dela. São palavras clichês, mas eu sei que ela não desistiria de mim se estivesse em meu lugar.
– Está certo! – ele tentou segurar minha mão, mas fugi novamente.
– Você não tem obrigação nenhuma de me acompanhar. – tentava fazê-lo voltar – Pode seguir sua vida.
– Susi – mais uma vez Richard tentou me tocar, mas desta vez falhei em fugir – enquanto estivermos nesta ilha a minha vida será com você. – Richard corou – E com a Lila, claro.
– E se, por um milagre, conseguirmos sair daqui? – não sei o que me deu para fazer essa pergunta – Vou, digo, vamos continuar sendo sua vida?
– Isso vai depender de você! – Richard me puxou para perto dele.
– Por favor, Richard! – o empurrei – Isso não é hora para este tipo de conversa. E eu já disse que não adianta tentar nada comigo. Eu nem te conheço!
– Entendo – ele respirou fundo – Mas, se ninguém cair com outro avião aqui, seremos só nós. Talvez só nós pelo resto da vida.
– O resto da vida é muito tempo. – não estava acreditando no que iria dizer – Até o resto da vida acabar muito coisa pode acontecer.
Seguimos em silêncio pelo cemitério de ossos. Era extremamente desagradável. Se a Lila estivesse fazendo algum tipo de brincadeira comigo ela iria me pagar muito caro. Mas não conseguia sentir que pudesse ser uma brincadeira. Infelizmente algo me dizia que a Lila não estava segura. Algo sério havia acontecido com ela.
O caminho estava difícil devido ao mau cheiro. Por várias vezes tive que tapar o nariz. E o caminho era longo. Não conseguia entender como não tinha enxergado este lugar quando estava na entrada deste “mundo paralelo”. Aliás, a impressão que tinha era de que quanto mais andava mais o lugar crescia. Tive a sensação de ter me afastado por completo da ilha. Era apavorante, mas nada comparado ao que viria depois.
– Mas que porcaria é essa? – Richard gritou.
Estávamos diante de um grande rio. Um rio de águas vermelhas.
– E agora? – me desesperei – O que eu vou fazer?
– Calma! – Richard olhava para os lados – Deve haver outro caminho.
Comecei a observar também. De fato havia outro caminho, mas teríamos que fazer uma longa volta. E meus instintos já não me apontavam mais para qual direção seguir. Estava completamente sem ação.
– Quer arriscar? – Richard perguntou apontando com os olhos em direção ao rio.
– Arriscar o que? – me fiz de desentendida – Atravessar o rio?
– É o caminho mais rápido! – ele continuava apontando para o rio.
Confesso que fiquei em dúvida sobre atravessar ou não aquele rio vermelho. A julgar pelos ossos atrás de mim era provável que aquilo nem fosse exatamente um rio. Fiquei toda arrepiada só de imaginar.
– Vamos pelo menos ver se não é muito fundo. Com essa cor fica difícil saber! – comecei a procurar uma pedra.
– Tome! – Richard encontrou antes de mim.
– Obrigada. – respondi sem pensar. Richard sorriu.
Atirei a pedra. E ficamos esperando. E esperando. E esperando. E esperando.
– Mas que raio de lugar é esse? – Richard pareceu ler meus pensamentos.
– E agora? – comecei a ficar aflita – O que vamos fazer?
– Creio que você saiba nada.
– Óbvio! – não estava gostando da ideia.
– Então vamos? – ele novamente apontou para o rio, mas desta vez usou as mãos.
– Que seja o que Deus quiser! – tomei coragem – Mas uma coisa eu te juro: se isso for brincadeira da Lila...
– E pode contar com a minha ajuda para o que você for fazer! – ele deu um leve sorriso, mas logo desfez. Provavelmente se lembrou que a situação era grave.
– Richard – o segurei antes dele entrar no rio – Desculpa por minhas grosserias.
– Tudo bem! – ele deu outro sorriso leve – Vamos então?
– Vamos!

sexta-feira, 16 de março de 2018

A Ilha || Capítulo 05



A Ilha

Passamos o restante do dia sem nos falarmos. Na realidade não me fez nenhuma falta. Foi algo até conveniente. Não estava querendo falar com ele mesmo. Só não estava gostando muito de ver meu coração acelerando toda a vez que ele se aproximava. O que seria isso? Será que minha raiva por ele é tão grande que eu chego a ficar nervosa quando ele se aproxima?
Na manhã seguinte fiquei surpresa de ver que Richard já estava acordado. Ele estava juntando um amontoado de galhos e folhas e fazendo a maior bagunça. Tive que quebrar o silêncio.
– O que você está fazendo? – já fui perguntando.
– Você não quer que eu saia da sua casa logo? – ele nem olhou para minha cara – Então? É exatamente o que eu estou fazendo. Estou separando material para construir minha própria casa.
– Fala sério! – olhei com cara de descrença.
– Nunca falei tão sério na minha vida! – ele continuava sem olhar para mim.
– Então pelo menos escolhe direito! – comecei a separar alguns galhos – Estes daqui vão quebrar na primeira topada que você der.
– Não precisa fazer nada por mim! – desta vez ele olhou para mim e tomou os galhos da minha mão.
– Eu só estava querendo ajudar! – fiz uma careta.
– Você me ajuda ficando longe de mim! – ele voltou a desviar o olhar.
– Você me ajuda ficando longe de mim! – o imitei deixando a voz bem pesada.
– Deixa de ser palhaça, Susi! – ele gritou.
– O palhaço aqui é você! – devolvi o grito.
– Vocês ainda estão nessa de ficarem brigados? – Lila apareceu – E depois eu que sou a infantil. O café já está pronto!
– Podem ir sem mim. – Richard amarava alguns galhos com cipós – Eu já comi algumas frutas por aí. Não estou com fome.
– Aqui o café não seria muito diferente mesmo. – fiz como quem pouco se importasse com a presença dele.
– Lila, você podia tentar fazer um pão qualquer dia desses. – Richard soltou a pérola.
– Pão, Richard? – quase gritei – Você quer comer pão? Você acha mesmo que nesta selva tem de tudo?
– Susi – Lila interveio – deixe o Rich sonhar um pouquinho!
– Mas é sério! – ele estranhou – Achei que vocês fizessem pão uma vez ou outra. Com tanto trigo atrás da ilha.
– Espere um minutinho! – fiquei intrigada – Do que você está falando?
– Da plantação de trigo! – ele respondia como se fosse a coisa mais óbvia do mundo – Vai me dizer que nunca foram na parte de trás da ilha?
Imediatamente Richard nos levou até o local onde ele viu a tal plantação de trigo. Era um pequeno monte, do qual eu já havia passado e subido algumas poucas vezes. E nunca, em nenhum momento, encontrei plantação de trigo por ali. Mas Richard me mostrou algo que eu jamais havia reparado antes. Uma passagem escondida!
Fiquei completamente sem palavras com a revelação. Dois anos rondando toda aquela ilha e nunca havia encontrado aquela passagem. Ela estava escondida em meio às pedras e plantas, mas estava lá para quem quisesse ver.
– Como você descobriu isso? – perguntei – Estava certa de que tinha rodado toda a ilha. Achei que essa parte não passava de um monte de pedras que havias deslizado do alto daquele rochedo.  
– Eu estava tentando arrancar aquele galho grande ali, tropecei e cai. – ele falava com uma naturalidade que me assustava.
– E você viu até onde ela vai? – a curiosidade invadiu meu ser – Encontrou algo de interessante?
– Olha isso aqui! – Richard tirou a camisa e mostrou um arranhão consideravelmente grande nas costas e depois nos cotovelos – Me arrebentei todo nessas pedras. Fui procurar um lugar para me lavar e segui de volta para casa.
– E nós estamos aqui esperando o quê? – Lila fazia uma excelente pergunta.
– Não estamos esperando absolutamente nada! – respondi já tomando a liderança da “excursão”.
Fui esquivando das pedras e logo avistei, não muito de longe, uma imensa plantação de trigo. Era algo totalmente inexplicável. Trigo e mais trigo como eu nunca tinha visto antes. E mais inexplicável ainda era o que vinha depois. Vários morros, montes e montanhas até perder de vista. Uma imensidão verde muito maior que a própria ilha. Era impossível. Não fazia lógica nenhuma.
– Isso aqui era para ser no máximo uma caverna! – estava de boca aberta – Não tem condições alguma disso aqui ser parte da ilha.
– Mas é real! – Lila também estava espantada – E eu estou ficando com muito medo.
– Medo do que? – Richard parecia achar tudo normal – Vocês não vivem dizendo que já estão aqui faz dois anos e nada aconteceu?
– Vocês uma vírgula! – Lila não tirava os olhos dos montes – A Susi que sempre diz isso. Eu nunca confiei plenamente na nossa segurança nesta ilha. Ainda mais depois daquelas pegadas enormes.
– Pois desta vez eu também estou com medo! – admiti.
– Ainda não consigo entender! – Richard coçava a cabeça.
– Vem aqui Richard! – o puxei pelo braço.
Voltei para a entrada da passagem e subi o monte até o topo com o Richard. Ele precisava ver com os próprios olhos para entender o motivo de tanto medo.
– Olha bem para esse lugar! – apontei em direção ao mar – Olha o tamanho disso. Agora me diga, tem alguma condição de todo aquele universo caber dentro disso aqui?
O monte não era assim tão alto e ele ficava bem próximo à baía da ilha. Era totalmente impossível que existisse algo ali dentro. Pelo menos não com toda aquela proporção.
– Realmente – Richard começava a entender – Não faz sentido algum.
– Estou te dizendo! – começava a descer o monte – Não faz sentido algum.
– Que lugar é esse? – Richard coçava a cabeça – Uma ilha que nem está no mapa! Será que morremos e estamos em um tipo de universo paralelo?
– Pode ter certeza que não! – tive que fazer força para soltar essas palavras – Se isso fosse um universo paralelo nós teríamos pelo menos mais duas pessoas com a gente.
– Entendo! – Richard baixou a cabeça – Sinto muito.
– Tudo bem. – dei um sorriso torto – De qualquer maneira essa ilha tem algo fora do comum. Estou começando a achar possível aquele papo de sobrenatural que você falou quando chegou.
– E o que pretende fazer? – Richard parecia apreensivo – Pretende explorar o lugar?
– Honestamente? Não sei. – confessei – Isso é tudo muito estranho. Não sou de me acovardar facilmente, mas estou tendo um péssimo pressentimento sobre esse lugar.
– Acha que a tal criatura que deixa aquelas enormes pegadas pode se esconder ali? – Richard tentava me alcançar, mas não tinha ainda o costume de subir e descer montes e morros.
– Eu já não sei de mais nada. – suspirei fundo.
Voltamos ao “mundo perdido” para buscar Lila, mas ela não estava mais lá. Então resolvemos voltar para casa. Richard queria explorar o lugar, mas eu definitivamente não estava gostando nada da ideia de voltar ali seja para o que for. Mas é claro que eu seria obrigada a voltar.
– Lila? – Richard chamou enquanto entrava em casa – Resolveu seguir o meu conselho e fazer pão?
O silêncio era apavorante. Agora eu não desconfiava, eu tinha certeza de que algo de ruim havia acontecido.
– Ela não está na cozinha? – perguntei já sabendo a resposta – Lila?
Subi para o quarto e ela não estava por lá. Olhei pela janela e ela também não estava ao redor. Não estava querendo acreditar que ela desapareceu naquela imensidão escondida em um monte, mas eu sabia exatamente que era por lá que eu deveria procurar.
– Está pensando o mesmo que eu? – Richard perguntou quando me viu descendo.
– Estou! – fui seguindo para a porta – E não gostei nada disso!

quinta-feira, 15 de março de 2018

A Ilha || Capítulo 04



A Ilha

Após o surto de Richard, ninguém teve coragem de pronunciar uma palavra. Nem mesmo a Lila. Só não era um silêncio total devido aos sons da mata, mas o clima havia ficado tão pesado que tive a sensação de ter ficado surda.
Chegamos aos destroços do avião, digo, do jatinho com cara de decepção. De longe era possível ver que poucas coisas seriam reaproveitadas.
– Não disse! – Richard quebrou o silêncio – Não tem nada aqui para resgatar.
– Vamos pelo menos conferir melhor? – insisti.
– Olha! – Lila gritou – Este lado do avião não está tão danificado assim.
– É um jatinho! – Richard e eu falamos juntos.
– E faz alguma diferença? – Lila fez uma careta – Essa poltrona aqui ainda dá para ser usada!
– Mas está furada! – Richard reclamou.
– Não tinha reparado! – fui bem ácida – Você está realmente achando que isso aqui é uma colônia de férias? Nesta ilha nós nos viramos com o que temos. E isso é o que temos.
– Acha que dá para fazer alguma coisa com essa porta? – Lila perguntou apontando para uma porta que estava jogada no chão.
– Vamos separar! – respondi.
– Olha! – Lila parecia um pinto no lixo – Achei um copo!
– Mas está quebrado! – Richard reclamou novamente – Vocês não vão me fazer usar um copo quebrado. Posso furar minha boca com isso!
– Você bem que merecia! – fechei o rosto – Mas não se preocupe. Tenho muitas ferramentas nesta caixinha aqui. A gente serra essa ponta quebrada e vê no que pode ser útil.
– Vocês querem levar todo o jatinho? – Richard parecia espantado.
– Tudo o que der para ser reaproveitado! – respondi.
– E vai dar para levar tudo isso de uma vez? – ele parecia estar suando frio. Provavelmente já sabia a resposta.
– E quem disse que vamos levar tudo de uma vez? – sorri – Acordamos cedo para isso, meu bem!
– Mas você não acha perigoso ficar subindo e descendo a montanha com esse monte de tralha? – Richard estava realmente assustado com a possibilidade.
– Olha o que eu encontrei! – Lila gritou novamente. Mas desta vez o grito dela não parecia de felicidade.
– De novo! – Richard também gritou.
Novamente aquela grande pegada havia aparecido. Era estranho que em dois anos nem eu e nem a Lila nunca tivéssemos encontrado aquelas pegadas. Isso estava começando a me assustar.
– Vamos levar tudo o que der de uma vez! – falei.
– Você está doida? – Richard gritou mais alto que de costume. Isso acabou fazendo sua voz falhar um pouco.
– Mas você não disse que isso não era nada? – Lila começava a tremer.
– E ainda acho que não estamos correndo todo esse risco que você e o Richard estão pintando. – tentei manter a calma – Mas de qualquer maneira, seja lá o que isso for, é melhor não ficarmos de bobeira.
Não deu para levar muita coisa. Além da poltrona e da porta, só levamos mais alguns pedaços do avião que poderiam servir para construir a cabana do Richard. E levar tudo aquilo foi complicadíssimo. Amarramos tudo o que deu com a corda que tinha trazido em minha maleta de ferramentas. A corda não era tão grande, então muita coisa a gente teve que ir apoiando e tomando cuidado para não cair na descida. Demoramos mais que o terço do tempo que levamos para subir, mas pelo menos já tínhamos algo para começar a cabana do Richard.
– O que iremos comer? – foi a primeira coisa que Richard perguntou quando chegamos – Estou com muitafome.
– Todos nós estamos! – fiz questão de ser grossa – E isso tudo é culpa sua!
– Mas o que foi que eu fiz? – ele perguntou fingindo confusão.
– Você caiu aqui! – bufei – Só pra atrapalhar nossas vidas.
– Olhe aqui – ele ficou nervoso – eu não planejei me acidentar!
– Você está sendo muito dura com o Rich! – Lila interveio a favor dele – Você não é assim Susi.
E realmente não era. Não conseguia entender bem o que estava acontecendo. Eu sabia que estava sendo estúpida com o Richard, que ele era tão vítima quanto nós. Mas toda vez que eu olho para ele algo acontece. E o que me dava mais medo era que no fundo, bem lá no fundo, eu sabia exatamente o que estava acontecendo comigo. E não estava gostando nenhum pouco disso.
– Desculpa. – tive que ser justa – Eu estou um pouco nervosa. É muita novidade. Não estou mais acostumada a ter a minha rotina interrompida por tantos acontecimentos.
– Tudo bem! – Richard respirou fundo – Eu te entendo. Também não está sendo fácil para mim. Mas acho que podemos tentar conviver pacificamente.
– Amigos? – estendi a mão.
– Amigos! – ele apertou.
– Muito bem! – Lila bateu palmas – Agora estão agindo como duas pessoas civilizadas!
– Está nos chamando de selvagens? – brinquei.
– Deixa de ser boba! – Lila sorriu – Agora precisamos encontrar um lugar para construir a casa do Rich. E mais materiais também, afinal, só isso não vai dá para construir muita coisa.
– Um quarto e uma cozinha já estão ótimos para ele! – provoquei um pouquinho. Só para não perder o hábito.
– Engraçadinha! – Richard fez uma careta – Mas desta vez você está certa. Não preciso de mais que isso.
– Nossa! – fiquei surpresa – Podia jurar que você iria querer uma casa triplex.
– Está me achando com cara de riquinho mimado? – Richard perguntou.
– Mas não é o seu apelido, Rich? – lembrei-o do fato.
– Pois pensou errado! – ele sorriu – Não sou nenhum riquinho.
– Então o que estava fazendo com um jatinho? – desta vez foi Lila quem perguntou. Algumas vezes ela até que raciocinava bem.
– Isso é uma história que eu não quero contar. – Richard fechou a cara de repente. Pelo visto havia algo de muito grave. Como eu desconfiava.
– Richard – tentei ser o mais séria possível – nós vamos conviver juntos por um bom tempo. Talvez pelo resto das nossas vidas. Seria bom se você começasse a revelar um pouco da sua história para a gente.
– Se é assim então prefiro ficar bem longe de vocês! – ele voltou a se irritar.
– Qual é Richard? – estranhei – O que de tão grave pode ter sido? Por acaso roubou o jatinho? Matou alguém? O que de tão hediondo você cometeu que não pode nos contar.
– Não é nada disso! – ele berrou – E você deixa de ser tão intrometida!
– Mas você é um estúpido mesmo! – gritei – Não sei como pude imaginar que poderíamos nos dar bem.
– Gente – Lila começou – não vamos voltar a estaca zero. Vocês já tinham superado isso. Vamos fazer o seguinte: ninguém toca mais neste assunto. Quando o Rich quiser contar, se ele quiser contar, então ele conta. Eu vou preparar alguma coisa para comermos.
– Pois prepare só para vocês duas. – Richard foi em direção a porta – Perdi a fome.
– Viu o que você fez! – Lila estava nervosa. De um jeito que eu só tinha visto em pouquíssimas vezes.
– Lila eu só acho que...
– Não Susi! – ela me cortou – Chega desse assunto.
– Tudo bem! – suspirei – Não vou deixar que um completo estranho estrague a nossa amizade.
– Eu também não quero que isso aconteça. – Lila se aproximou de mim – E nem deixaria. Mas vamos com calma. Ele está em estado de choque. Você sabe muito bem o que é perder toda a sua vida de repente.
– Eu sei Lila – também me acheguei – mas você não acha essa reação do Richard um pouco exagerada? E essa moça que estava com ele? Quem era? Se ele não era nenhum riquinho, o que estava fazendo no jatinho?
– Será que isso realmente importa? – Lila já estava mais calma – Nas condições que estamos, bem, se ele era um ladrão ou coisa parecida, com a gente ele não vai ter muito que roubar.
– Não sei não – ainda estava desconfiada – Mas tem algo estranho nessa história! E eu vou descobrir!

27 de Fevereiro de 1999 - Raul Gil x Globo - Semana 2

Resultado de imagem para 1999 - Raul Gil

Por módulos de 15 minutos, vamos continuar divulgando os números dessa trajetória do seu Raul na Record, na escalada da audiência, que começou pra valer naquele mês de fevereiro de 1999, após o carnaval, que mudariam para sempre os sábados à tarde da TV Brasileira, até então um horário morto... Naquele dia, a Globo colocaria no tradicional horário das 16 horas o clássico Corinthians x Palmeiras pela Libertadores da América, naqueles tempos a tabela do futebol era bem bagunçada, em compensação sugando toda a audiência naquele horário!!

12h01 - 12h15:  Globo 13 x SBT 7 Programa Raul Gil 3
12h16 - 12h30: Globo 12 x SBT 8 x Programa Raul Gil 4
12h31 - 12h45: Globo 14 x SBT 9 x Programa Raul Gil 5
12h46 - 13h00: Globo 15 x SBT 10 x Programa Raul Gil 6

13h01 - 13h15: Globo 16 x SBT 10 x Programa Raul Gil 8
13h16 - 13h30: Globo 15 x SBT 10 x Programa Raul Gil 8
13h31 - 13h45: Globo 13 x SBT 11 x Programa Raul Gil 10
13h46 - 14h00: Globo 13 x SBT 11 x Tchan Juvenil 8

14h01 - 14h15: Globo 14 x Tchan Juvenil 11 x SBT 7
14h16 - 14h30: Globo 13 x Tchan Juvenil 13 x SBT 6
14h31 - 14h45: Tchan Juvenil 16 x Globo 13 x SBT 6
14h46 - 15h00: Jogo do Banquinho 16 x Globo 13 x SBT 5

15h01 - 15h15: Globo 16 x Jogo do Banquinho 13 x SBT 6
15h16 - 15h30: Globo 16 x Jogo do Banquinho 12 x SBT 6
15h31 - 15h45: Globo 17 x Jogo do Banquinho 14 x SBT 5
15h46 - 16h00: Globo 20 x Pra Quem Você Tira o Chapéu 11 x SBT 4

16h01 - 16h15: Globo 25 x Pra Quem Você Tira o Chapéu 10 x SBT 4
16h16 - 16h30: Globo 30 x Programa Raul Gil 10 x SBT 4
16h31 - 16h45: Globo 32 x Programa Raul Gil 7 x SBT 5
16h46 - 17h00: Globo 30 x Programa Raul Gil 8 x SBT 5

17h01 - 17h15: Globo 32 x Programa Raul Gil 9 x SBT 4
17h16 - 17h30: Globo 36 x Programa Raul Gil 8 x SBT 5
17h31 - 17h45: Globo 39 x Programa Raul Gil 7 x SBT 6
17h45 - 18h00: Globo 37 x Programa Raul Gil 7 x SBT 7